TEXTO EXPOSITIVO-ARGUMENTATIVO
A produção de um texto expositivo-argumentativo visa avaliar competências como a compreensão de enunciados escritos e a expressão escrita, visíveis na construção de um texto que pressupõe a compreensão da tese formulada no enunciado, a exposição de uma opinião e a selecção de argumentos, bem como a produção de um discurso correcto e bem estruturado. Este texto deverá revelar uma análise crítica e pessoal do enunciado da pergunta, reflectindo o conhecimento que possui da obra, do autor, do período literário ou do tema em causa.
COMO ELABORAR UM TEXTO EXPOSITIVO ARGUMENTATIVO?
- Ler atentamente o enunciado contido na questão formulada (normalmente é a citação de uma obra ou uma simples afirmação) e identificar de imediato o autor, a obra e o movimento literário que servirá de base à argumentação, ou o tema genérico a explorar;
- Planear a estrutura do texto: clarificar o ponto de vista, seleccionar os tópicos a desenvolver ao longo do texto a produzir, devidamente encadeados, para evitar repetições e incoerências;
- Comprovar cada argumento com exemplos concretos e bem fundamentados na obra do autor ou com exemplos significativos relacionados com o tema em reflexão;
- Proceder à redacção do texto, começando por uma breve introdução do tema, desenvolver a argumentação, articulando bem os parágrafos e, no final, como conclusão, sintetizar as ideias centrais apresentadas;
- Utilizar um vocabulário diversificado e preciso e um correcto registo de língua.
COTAÇÃO (exame nacional)
Na prova de exame, o texto expositivo-argumentativo é avaliado, tendo em conta as seguintes competências:
Estruturação de um texto com recurso a estratégias adequadas à defesa de um ponto de vista, sem desvios ao tema proposto;
Elaboração de um texto coerente e coeso, com argumentos lógicos bem articulados e devidamente suportados por exemplos significativos (deve atentar-se no número de argumentos pedidos e respectivos exemplos);
Redacção de um discurso bem estruturado (introdução, desenvolvimento, conclusão), com recurso a conectores frásicos adequados e diversificados;
Produção de um discurso correcto nos planos lexical, morfológico, sintáctico, ortográfico e de pontuação, com marcação correcta dos parágrafos e respeito pelo limite de palavras.
EXERCÍCIO PRÁTICO 1
“Reis […] manifesta uma aguda mas estóica sensibilidade em relação ao tema da passagem do tempo.”
Maria Alzira Seixo, Singularidades de uma Literatura Ocidental, Asa, 2001
Considere o juízo crítico apresentado e comente-o, fundamentando-o na sua experiência de leitor. Redija um texto expositivo-argumentativo bem estruturado, de duzentas a trezentas palavras.
Tópicos a desenvolver:
• Dor da efemeridade da vida;
• Consciência do poder implacável do destino (fatum);
• Defesa de uma filosofia de vida estóico-epicurista;
• Aceitação e consciência da subordinação do Homem face ao fatum;
• O carpe diem e a mágoa profunda, mas serena, resultante dessa consciência.
Produção de um texto expositivo-argumentativo
Ricardo Reis reconhece a inexorabilidade da passagem do tempo, tendo plena consciência da dor provocada pela natureza efémera do homem.
Consciente do poder implacável do Destino (fatum), que condiciona a existência humana como uma mera passagem, tendo como fim a morte - «passamos como um rio» -, Reis é defensor de uma filosofia de vida estóico-epicurista, capaz de conduzir o homem numa existência sem inquietações e sem angústias, e aceita o destino que lhe é imposto, contentando-se em gozar a vida moderadamente e através do exercício da razão. Para tal, sugere um esforço de autocontrolo que evite as paixões que acarretam sofrimento. Vivendo o momento presente e acreditando no poder da razão, transfigura-se a emoção em indiferença «sem amores, sem ódios, nem paixões que levantem a voz», deixando fluir o tempo, cuja passagem é simbolizada pela passagem das águas do rio.
Como só o momento presente nos pertence, cabe ao homem viver esse momento (carpe diem) e, por esse motivo, Reis revela na sua poesia a profunda e serena mágoa, resultante da consciência do poder devorador do tempo.
Dado que «Amanhã não existe», Ricardo reis consegue a felicidade pela ataraxia - «mais vale saber passar silenciosamente / e sem desassossegos grandes» - e pela aceitação da morte e do destino - «nada, salvo o desejo de indif’rença / E a confiança mole / na hora fugidia». (226)
EXERCÍCIO PRÁTICO 2
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas palavras e um máximo de trezentas palavras, apresente uma reflexão sobre as ideias expressas no excerto a seguir transcrito, relativas à tendência para se investir no espaço pessoal e se esquecer o espaço público. Para fundamentar o seu ponto de vista, recorra, no mínimo, a dois argumentos, ilustrando cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
“Ao longo da vida, a tendência é para as pessoas passarem cada vez mais tempo sozinhas e fechadas dentro das suas casas, transformadas em verdadeiras «torres de marfim». A maneira como se acumulam bens físicos e se procura melhorar os espaços domésticos reflecte um cada vez maior alheamento em relação ao espaço público colectivo, que raramente é pensado como um bem comum.”
Teresa Alves, “Territórios do Nada entre a Esperança e a Utopia”, 2002
Produção de um texto expositivo-argumentativo
A tendência para se investir no espaço pessoal em detrimento do espaço público tem vindo a aumentar nas sociedades modernas. Antigamente, as pessoas viviam mais abertas ao outro, o tempo que passavam em conjunto era muito maior e existia o café, o largo, a igreja, como pontos de encontro de final de dia para todos conviverem e se encontrarem. Todos se conheciam e o outro funcionava como um escape, um suporte.
Com o êxodo rural e com a migração para as grandes cidades, a par do crescimento tecnológico, tudo se foi alterando. A televisão, por exemplo, fazia com que todos se encontrassem no café mais abastado para visionarem os programas emitidos pela «caixinha mágica». Gradualmente, todas as casas foram tendo o seu próprio aparelho, o que resultou num afastamento. O serão já não era passado na colectividade, mas na individualidade de cada lar. E assim tem sido, cada vez mais as pessoas vivem entregues a si próprias: recheiam-se as casas com o mais moderno dos equipamentos, há um investimento consumista para optimizar o espaço individual, porque deixou de haver tempo e necessidade de estar com outras pessoas. Cada um, pelas exigências da vida moderna, passou a ser auto-suficiente. E isto reflectiu-se em alheamento relativamente aos espaços públicos colectivos: cada um deixou de sentir como seu um espaço que já não frequenta, logo, não cuida, não investe nele, simplesmente porque não o utiliza. Até mesmo as crianças, que brincavam em conjunto nos parques infantis ou nos campos de jogos deixaram de o fazer, porque ficam confinadas, sozinhas, frente ao computador ou à Playstation.
Em suma, já ninguém reivindica a criação ou a melhoria dos espaços públicos, porque eles foram substituídos pela nossa casa, onde temos todo o sossego e conforto. (289)